terça-feira, 22 de outubro de 2013

Um pedaço de mim chamado emigração.

Sou enfermeira há dois anos e como 99%  dos enfermeiros que concluiram o curso nessa altura foi o desemprego quem me acolheu após ter feito as malas e voltado para a minha cidade definitivamente.

Definitivamente não é uma boa palavra para utilisar, pois nunca fui daquelas pessoas que consegue ser parasita da sociedade e conhecendo-me bem sabia que a casa da minha mãe era temporário.
Antes mesmo de terminar o curso já tinha enviado currículos para agências de recrutamento de enfermeiros em Inglaterra. A língua não era um grande problema e por isso um mês após o final do curso tinha entrevista marcada. O F. não queria Inglaterra o que tornou a decisão mais complicada porque deixá-lo em Portugal estava fora de questão.  Os preços no que toca a inscrições na ordem dos enfermeiros em Inglaterra e processos de emigração também não ajudavam. Assim, aqui a Tita voltou a pôr mãos à obra e ainda sem saber muito bem para quê comecei a trabalhar na worten.  Ao fim de uns tempos, o F. propôs a França.  Ui!  Que dor de cabeça.  Não sabia falar francês e decidir pela França implicava recomeçar tudo. Enviar de novo currículos para agências de recrutamento diferentes, pesquisar o conceito de enfermagem em França etc, etc, etc.
Para a minha mãe era igual, França ou Inglaterra para ela eram só sinónimo de 'concretização professional da minha filha' e 'longe'. Para mim, depois de pesquisar e ver que a enfermagem era muito mais parecida à portuguesa, França era o que tinha de ser.
Mal pudemos inscrevemo-nos num curso de francês.  50 horas, numa turma só de profissionais de saúde,  a maioria como nós,  acabados de sair da escola.  Acabaram-se as 50 horas, levaram-nos os 250 euros (a cada um) e do Francês so ficou o básico,  muito básico.  Pensavamos que nunca seria possível passarmos uma entrevista e que teriamos de investir ainda mais dinheiro numa formação de francês.

  A surpresa foi quando uma das agências nos liga imediatamente no dia seguinte ao final do curso de francês.  Propunha ter-mos 8h por dia de francês com eles de forma gratuita até ao dia em que tivessem uma proposta de emprego para nós em França.  Aceitamos claro. Além do mais, trabalho proposto por essa empresa era sinónimo de que eles se encarregariam do processo de emigração,  nos arranjariam casa quando partissemos, que a pagariam durante o tempo que trabalhassemos por um dos contratos deles, nos pagariam as viagens de ida e volta de e para Portugal, o transporte que usassemos ao ir para o hospital, tudo. Basicamente só ganhariamos para comer e a única coisa que tinhamos de fazer era aproveitar as aulas, que se adivinhavam intensivas, que nos davam.
Assim foi. Não fossem os atrasos por parte do grupo hospitalar e em mês estaríamos em França.  Com todos os contratempos, dois meses foi o tempo que esperamos para partir e dada a intensidade das aulas tinhamos conseguido nível B2 na língua o que era fantástico.
A proposta agradava-me bastante, sendo que era em Paris, centro!  A pior parte foi que era um emprego em bloco operatório e nunca me tinha chamado muito à atenção. Mas não podia reclamar,  encarei como uma experiência e ala que lá vão eles.

A primeira vez que vi o meu hospital

Faz ano e meio que estamos em Paris.  Faz ano e meio que me apaixonei pelo bloco. Se eu acreditasse nele, diria que 'Deus escreve direito por linha tortas', como não acredito fico-me por achar que tive muita sorte.
Não foi tudo um mar de rosas este ano e meio que passamos na cidade da luz, mas fomos persistentes e hoje somos independentes, donos do nosso nariz e realizados.
Este é só o resumo do pré-migração.  Dentro dele houve muito choro, medo e nervosismo.  Mas isso fica para contar uma outra vez, assim como o peri-migração e quem sabe um dia, o pós-migração.


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